18 de novembro de 2015

O tal rabisco.

Uma de minhas manias prediletas é escrever em guardanapos. Pode parecer bobo, mas apesar de minha casa e minha bolsa sempre terem um bloco de notas por perto, são naqueles papéis macios que adoro escrever, seja o telefone de algum gato no `balcão do bar da balada´, a letra de uma música, o site de viagens ou uma ideia, um pensamento que não posso esquecer. Todas as alternativas são autobiográficas e foi de um destes que surgiu o desejo de escrever neste bloco virtual. 

Rabiscar palavras que ganham sentido é o primeiro passo para que a mensagem chegue onde queremos. Escrever seria a parte boa, mas e dizer cara a cara? Não seria muito mais rápido, não seria como arrancar o band-aid em um puxão e o problema estaria resolvido? Em alguns casos sim, é só ir lá, marcar um encontro e pronto. Em um destes rabiscos, encontrei a seguinte frase: "A única coisa que ainda escandaliza hoje em dia é a sinceridade".

Joguei a mesma na internet e o primeiro resultado caiu na página de uma escritora conhecida e que me inspira. Instantaneamente, outra frase dela me veio á mente e que também me inspirou em outra ocasião. "Hoje não escondo nada do que sinto e penso, e às vezes sofro com isso, mas ao menos não compactuo mais com um tipo de silêncio nocivo: o silêncio que tortura o outro, que confunde". Esta frase faz parte de um dos textos do livro de crônicas da Martha Medeiros, intitulado "Doidas e Santas". O texto é sobre a arte de falar. 



Falar e sinceridade, duas palavras que precisam estar em harmonia e olha, não sei qual das duas me desperta mais medo e/ou adrenalina. Vai dizer que não é bom ouvir algo bom e inesperado? Vai dizer que não é de dar arrepios pensar que aquele seu desejo mais insano é o mesmo daquele que faz sua alma ficar leve? Utopias à parte, Martha Medeiros com seu jeito de escrever quis dizer o mesmo que eu. Não chego nem aos pés da escritora, mas acredito que o sentimento é o mesmo. Sempre fui defensora ferrenha de falar, na alegria ou na tristeza. Jamais o outro vai saber o que você quer se você não falar. Os cachorros latem quando querem dizer algo, os bebês choram e você, até quando vai criar desculpas para não falar? O único motivo que conheço tem nome: falta de coragem.

Não pense você que sou corajosa a este ponto, atiro a primeira pedra porque sou uma medrosa, mas também digo que, quando resolvi me despir do medo, a estratégia funcionou e é por isso que continuo a defender que o olho no olho e as palavras medidas com emoção valem cada calafrio, cada arrepio na nuca, as recompensas valem. Tente, experimente, permita-se. 

Neste momento, mais um guardanapo irá se juntar aos outros, com outro rabisco e que desta vez, não ficará somente registrado pela tinta azul da caneta no pedaço branco. Esse tal rabisco pode escrever mais uma página do livro da vida que - por enquanto - está esperando mais um capítulo. 

ps: alguma semelhança com o senhor Antônio não é mera coincidência.

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