9 de novembro de 2012

O bonde e seu livre arbítrio.

Há dois meses preciso escrever. Há 60 dias necessito me expressar. Há oito semanas crio coragem para digitar estas palavras. O tempo dos verbos não está errado. É no presente e está mais vivo do que nunca. Mudar significa mexer. Mudar o quarto quer dizer que troquei algumas coisas de lugar..Mudar o cabelo pode ser uma forma de sacudir o visual. Mudei e mexi toda uma vida..a minha e de várias pessoas ao meu redor. Há dois meses saí do sul e fui para o centro. Mudei. Arrumei as malas e parti. A frase 'sair de baixo da saia da mãe' sempre fez parte do vocabulário de qualquer pessoa que se julga independente, que quer demostrar para si e para os outros a capacidade de andar com as próprias pernas..o que ninguém sabe é que quem realmente move 'as pernas' são os sentimentos. 

Sempre quis andar com as minhas, 'mexer', mudar o meu mundo. Fiz planos, foquei onde queria e fui..me joguei do penhasco e não caí. Aliás, posso dizer que caí na direção que planejei mas não imaginei o quanto seria bom e também difícil. Já escrevi sobre livre arbítrio e o acionei para uma das decisões mais difíceis da minha vida..e acertei. Com isso, ganhei muito, mas como tudo na vida tem dois lados, perdi outras. Há dois meses ensaio para dizer o quanto mudar é bom, porém NADA fácil. Mudar dói, aquela dor igual quando a 'saudade' resolve doer, sabe?. Dói na alma. Deixar uma vida inteira para começar outra..quem não quer isso? Tudo novinho, cheirando alecrim, com todo gás e aí alguns vão dizer: 'ih, tá chorando de barriga cheia', mas não. Tudo é bom, é necessário, mas dói.

A gente sempre acha que sabe tudo, que está preparado para tudo. A gente acredita que do dia para noite vai melhorar, amenizar quem sabe. Pois não.

Há dois meses quis dizer que no dia 7 de setembro dei meu suspiro de "independência' e cheguei nesta terra no outro dia cheia de malas, anseios, dúvidas e cheia de saudade da minha outra vida que ficou lá. Cheguei e fiquei. Vou ficar. Sei que aqui é o meu lugar agora. Amanhã, não sei. Aquela vida ficou mas só de pensar dói, dói muito. Dói saber os momentos que não estou por lá, de pensar nos que ficaram. O que conforta é que a escolha que fiz - repito - foi a mais certa. O bonde, às vezes, não passa duas vezes no mesmo lugar e  como já vivi uma vez, resolvi não arriscar e seguir estes trilhos. 

Hoje, justo hoje resolvi reler a história de uma das amigas que moram longe de mim e cabe aqui a quase cópia com algumas alterações do que ela escreveu sobre a palavra que existe somente na língua portuguesa  e que todo mundo sabe muito bem o quanto ela maltrata quando quer.
Assim é que me sinto hoje, uma mescla deste texto escrito por mim, e deste desabafo direto de Las Vegas. 
Saudade dói. Mudar é bom, não necessariamente nesta ordem.

"Estar longe de casa naquele momento não fazia nenhum sentido para mim e foi difícil evitar a pergunta "o quê eu estou fazendo aqui?". A resposta eu já sabia. [...]. Assim, apenas o pensamento, a pontinha de dúvida, a pergunta recorrente, me encheu de culpa. A culpa de ir embora e deixar a família e os amigos [...] Naquele final de semana, fiquei com o coração apertado por não estar lá e fiquei com o coração apertado por querer estar lá. Quanto aperto! 


[...]. Um viva para a tecnologia. Não me senti tão longe. Até porque estar longe é diferente de estar distante. De uma forma ou de outra, eu sempre me sinto muito perto das pessoas que são importantes para mim. No entanto, aquele final de semana foi uma prova de todos os bolos de aniversário que eu vou perder. Todas as festas de casamento, batizados, formaturas que eu não vou comparecer, [...]. O mais provável é que eu não esteja presente, uma verdade difícil de lidar e acho que nunca vai ficar mais fácil. Acredito que com o tempo, algumas coisas vão melhorar, talvez a saudade de casa se amenize. Porém, o fato de estar ausente em determinados momentos vai doer para sempre. Mas, eu gosto de pensar que as coisas acontecem na vida da gente do jeitinho que elas tem que acontecerem.[...]

Mesmo assim, vou continuar não podendo estar tão presente o quanto eu gostaria, mas confesso que a notícia foi um conforto e tanto. Foi um abraço da vida, dizendo, viu, eu sei o que eu estou fazendo contigo. Segura a tua onda, Fabiana." "Carol".